sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Salve a Casa do Caio Fernando Abreu: AJUDE A ESCOLHER A FRASE PARA PLACA DE HOMENAGEM A...

Salve a Casa do Caio Fernando Abreu: AJUDE A ESCOLHER A FRASE PARA PLACA DE HOMENAGEM A...: A VOTAÇÃO ACONTECE NO BLOG TPM http://andreatpm.blogspot.com/ PARTICIPE! 1 -Me perguntam, assim, o que tu achas de tal coisa. Pô, eu n...

domingo, 12 de outubro de 2008

Colombia

Demorou, mas conseguimos. Viajar para o exterior com uma peça de teatro, na qual trabalho como ator e co-produtor, sonho acalentado há quase trinta anos...
FARSA acaba de participar dos Festivais Internacionais de Teatro de Manizales e Bogotá, na Colômbia. Quatro apresentações inesquecíveis, com legendas em espanhol, para gente de muitos países. Bom demais (re) descobrir que bom teatro não tem nacionalidade e que pode ser entendido, apreciado e aplaudido por todo tipo de gente.
FARSA estreou em Porto Alegre, no início de agosto de 2007. De lá para cá foram 130 apresentações, em 25 cidades do Brasil, para mais de 50.000 espectadores. Com direito a uma temporada de quatro meses no Teatro SESC Ginástico/RJ, participação em quatro festivais (Festivais de Curitiba e Angra dos Reis, no Brasil, e os Festivais de Manizales e Bogotá, no exterior) e ainda dez indicações aos prêmios Shell, APTR e Qualidade Brasil.
FARSA inicia agora no dia 17 de outubro (Teatro das Artes/RJ) sua segunda temporada carioca e ainda programamos uma temporada em São Paulo no primeiro semestre de 2009.
FARSA tem ainda muita estrada pela frente, trabalho bom, feito com gente pela qual sinto imenso carinho, admiração e respeito.
Longa vida para nossa FARSA!
Abraços para todos!

terça-feira, 1 de julho de 2008

Links

Quem tiver curiosidade e/ou interesse, pode visitar minha página no Youtube

www.youtube.com/madbreda

ou minha home page (em construção)

www.marcosbreda.com.br

Abraços

Marcos B.

Micro-discurso proferido no VII Congresso Brasileiro de Prevenção das DST e AIDS / Florianópolis / 25/06/2008


Pessoal:


Quando me convidaram para este evento, na condição de "representante das Artes", fiquei deveras honrado. Me disseram que eu poderia/deveria fazer um discurso de até cinco minutos. Pensei: "oba, quase sempre a melhor virtude de um discurso é sua brevidade..."

Pensando no que falar, comecei a ler o material promocional do evento e descobri que se tratava também da inserção da Arte no contexto da Saúde. Me deparei também com a expressão "Município - Mundo". Recordei imediatamente da expressão latina urbi et orbi, a expressão com a qual os papas católicos no Vaticano iniciam seus pronunciamentos, dirigindo-se à cidade (de Roma) e ao mundo.

Costuma-se dizer que o artista capaz de falar de sua aldeia com profundidade, propriedade, afeto e, sobretudo, talento acaba por falar do Mundo e para o Mundo.

Como todo grande artista, Caio Fernando Abreu - o escritor homenageado neste congresso - falava daquilo que lhe era próximo e vital com tamanha beleza e maestria que sua obra continua a angariar, mesmo quase doze anos após sua morte, um número cada vez maior de leitores apaixonados.

Caio foi além ao falar, não somente de sua aldeia, mas também - e principalmente - de seu universo interior, de sua mais profunda intimidade, de seu próprio corpo e espírito, de sua mais pungente dor. Caio foi um dos primeiros artistas brasileiros, assim como Cazuza e tantos outros, a assumir publicamente sua condição de soropositivo. Isso numa época em que a expressão politicamente correta "viver com Aids" ainda não existia. Não somente pela ausência da expressão propriamente dita, mas também pela impossibilidade prática da mesma. Não se vivia com Aids. Ser portador do vírus era uma sentença de morte implacável, inapelável. Morria-se das doenças provocadas pela imunodeficiência, mas morria-se também de preconceito e seus inseparáveis efeitos colaterais: segregação, isolamento, descaso, solidão e desamor.

Caio teve a sorte de contar com o apoio da família e amigos nos seus derradeiros meses e morreu cercado dos cuidados médicos possíveis na época; cercado também de atenção, carinho e amor. A corajosa atitude de Caio, no entanto, foi decisiva na maneira com a qual a sociedade brasileira passou encarar esta doença e, se estamos aqui hoje, é também graças a ele.

Fico pensando na função da Arte e do Artista neste contexto. Claro que a Arte pode e deve transmitir informação e ajudar na conscientização & prevenção de doenças. Mas considero a Arte ainda mais eficiente quando ajuda a construir dentro do indivíduo a capacidade de refletir, de estruturar-se, de criticar, de processar/produzir informação, de dizer "Sim" e principalmente de dizer "Não". Não a oportunismos baratos, obscurantismos obsoletos, moralismos de ocasião e toda sorte de opressão do homem pelo homem.

Queria finalizar dizendo que estou muito feliz de participar de um evento desta magnitude e importância, parabenizar seus organizadores, autoridades presentes e, especialmente, toda esta imensa platéia. Creio que iniciativas como esta são de uma importância decisiva urbi et orbi. Importantes e decisivas para nossa aldeia e, talvez, para todo nosso mundo.

Bom congresso para todos; todo meu carinho para cada um de vocês. Boa noite e obrigado!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

FARSA, a bola da vez

"Farsa"

Comédias deliciosas no Teatro Ginástico

Lionel Fischer

Por muitos encarada, erroneamente, como uma subclassificação da comédia, a farsa tem poucas - se é que as possui - pretensões intelectuais e seu objetivo é o de entreter e provocar risos. Seu humor reside basicamente em atividades físicas, ritmo acelerado, violência e efeitos visuais, sendo seus alvos preferidos o casamento, a medicina, as leis e os negócios.
O presente espetáculo reúne quatro textos: "Os faladores" (Cervantes), "O urso" (Tchecov), "O médico saltador" (Molière) e "Os ciúmes de um pedestre" (Martins Pena). Em cartaz no Teatro Sesc Ginástico, "Farsa" conta com direção de Luiz Arthur Nunes e elenco formado por Bianca Byngton, Claudia Ohana, Luciana Braga, Marcos Breda, Mario Borges e Sergio Marone.
Ainda que, dos textos apresentados, "O médico saltador" seja o que mais se encaixa no gênero, o que importa ressaltar, antes de mais nada, é a ótima idéia de se reunir, em um mesmo espetáculo, quatro peças curtas deliciosas. E também destacar todos os aspectos desta produção impecável - exceção feita à cenografia do texto final, "Os ciúmes de um pedestre", que, além de entrar em choque com o restante do cenário (basicamente preservado durante toda a montagem), é de uma feiúra inacreditável.
Quanto ao espetáculo, Luiz Arthur Nunes impõe à cena uma dinâmica em perfeita sintonia com os textos, criando marcas inusitadas e muito divertidas, mantendo sempre um ritmo pulsante e estabelecendo ótimas parcerias com os intérpretes. Bianca Byngton, Claudia Ohana, Luciana Braga, Marcos Breda, Mario Borges e Sergio Marone - este último em um nível ligeiramente inferior ao dos demais - encarnam seus papéis com grande competência e retiram dos mesmos todo o potencial possível.
Ainda assim, torna-se impossível não conferir um destaque adicional a Marcos Breda e Mario Borges, ambos exibindo não apenas notáveis trabalhos vocais e corporais, mas também uma compreensão absoluta dos contextos em que atuam. Sem dúvida, duas performances marcantes, que certamente se inserem entre as melhores da temporada.
Com relação à equipe técnica, são de excelente nível as traduções de Nunes e Breda, a mesma excelência presente nos belíssimos figurinos criados por Coca Serpa. Paulo César Medeiros ilumina a cena com humor e sensibilidade, sendo inteiramente apropriadas as músicas de Alexandre Elias, as coreografias de Antonio Negreiros e o visagismo de Rose Verçosa. No tocante ao cenário, e excetuando-se o último, como já foi dito, o trabalho de Hélio Eichbauer é deslumbrante.

FARSA - Textos de Cervantes, Tchecov, Molière e Martins Pena.
Direção de Luiz Arthur Nunes.
Com Marcos Breda, Mario Borges e outros.
Teatro Sesc Ginástico. Qui. a dom., às 19h.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Dez anos...

Mais de dez anos se passaram desde sua dolorosa partida. Lembro, com penosos detalhes, do sofrimento e da agonia do meu amigo. Mas a lembrança mais forte que sempre me vem dele é a sua risada. Risada rouca e grave, de quem fumou muito, falou muito, chorou muito, riu muito, amou muito e demais.
Porque sua obra, mais do que qualquer outro assunto, falava de Amor. De Amor e da Falta deste Amor. Não este amor barato, cotidiano e clichê, que enche as páginas das revistas de fofocas. Caio falava de um Amor maior, este Amor Maiúsculo que nos condena e nos redime de nossa sublime grandeza.e miséria. Não acho que meu amigo mereça ser lembrado como um escritor gay soropositivo que escancarou despudoradamente sua tragédia, sem culpa nem autocomiseração. Caio Fernando Abreu foi muito mais e muito além desses rótulos preconceituosos, reducionistas e empobrecedores. Caio foi / é um dos maiores escritores que este triste país já teve. Sua obra - somente agora, mais de dez anos após sua partida – vem merecidamente conquistando mais e mais admiradores. Nada mais justo que assim seja, cada vez mais.
Mas para mim, mais do que um escritor genial, ele foi um dos maiores amigos que a Senhora Dona Vida (como ele gostava de chamá-la...) me presenteou. Saudades, meu irmão. Que seja alto e iluminado o seu vôo por entre as estrelas.

Na Terra do Coração

Nave, ninho, poço, mata, luz, abismo, plástico, metal, espinho, gota, pedra, lata.

Passei o dia pensando – coração meu, meu coração. Pensei e pensei tanto que deixou de significar uma forma, um órgão, uma coisa. Ficou só som-cor, ação – repetido, invertido – ação, cor – sem sentido – couro, ação e não. Quis vê-lo, escapava. Batia e rebatia, escondido no peito. Então fechei os olhos, viajei. E, como quem gira um caleidoscópio, vi:
Meu coração é um sapa rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe.
Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham. Roídas de traças, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis, cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.
Meu coração é o mendigo mais faminto da rua mais miserável.
Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável.
Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin (será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte, desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano.
Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos.
Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo.
Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira-mar. A brisa sopra, saiu a primeira estrela. Há moças nas janelas, rapazes pela praça, tules violetas sobre os montes onde o sol se pôs. A lua cheia brotou do mar. Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais.
Meu coração é um anjo de pedra com a asa quebrada.
Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco.
Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores e saboroso de todos os sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre.
Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miúdas. Lareira acesa, poltronas fundas e macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de hera. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublimou um verso de Sylvia Plath: “I’m too pure for you or anyone”. Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas.
Meu coração é um filme noir, projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.
Meu coração é um deserto nuclear, varrido por ventos radioativos.
Meu coração é um cálice de cristal puríssimo, transbordante de licor de strega. Flambado, dourado. Pode-se ter visões, anunciações, pressentimentos; ver rostos e paisagens dançando nessa chama azul de ouro.
Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam por destruir tudo.
Meu coração é uma planta carnívora morta de fome.
Meu coração é uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheio de gemidos – Ai de mim! Ai, ai de mim!
Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Vega. Levam junto quem me ama, me levam junto também.
Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa de Cairo, sapato de sola furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro, papel crepom, cão uivando para a lua, ruína, simulacro, varinha de incenso. Acesa, aceso – vasto, vivo: meu coração teu.

Caio Fernando Abreu
O Estado de São Paulo, 10/02/88