segunda-feira, 5 de novembro de 2007

FARSA, a bola da vez

"Farsa"

Comédias deliciosas no Teatro Ginástico

Lionel Fischer

Por muitos encarada, erroneamente, como uma subclassificação da comédia, a farsa tem poucas - se é que as possui - pretensões intelectuais e seu objetivo é o de entreter e provocar risos. Seu humor reside basicamente em atividades físicas, ritmo acelerado, violência e efeitos visuais, sendo seus alvos preferidos o casamento, a medicina, as leis e os negócios.
O presente espetáculo reúne quatro textos: "Os faladores" (Cervantes), "O urso" (Tchecov), "O médico saltador" (Molière) e "Os ciúmes de um pedestre" (Martins Pena). Em cartaz no Teatro Sesc Ginástico, "Farsa" conta com direção de Luiz Arthur Nunes e elenco formado por Bianca Byngton, Claudia Ohana, Luciana Braga, Marcos Breda, Mario Borges e Sergio Marone.
Ainda que, dos textos apresentados, "O médico saltador" seja o que mais se encaixa no gênero, o que importa ressaltar, antes de mais nada, é a ótima idéia de se reunir, em um mesmo espetáculo, quatro peças curtas deliciosas. E também destacar todos os aspectos desta produção impecável - exceção feita à cenografia do texto final, "Os ciúmes de um pedestre", que, além de entrar em choque com o restante do cenário (basicamente preservado durante toda a montagem), é de uma feiúra inacreditável.
Quanto ao espetáculo, Luiz Arthur Nunes impõe à cena uma dinâmica em perfeita sintonia com os textos, criando marcas inusitadas e muito divertidas, mantendo sempre um ritmo pulsante e estabelecendo ótimas parcerias com os intérpretes. Bianca Byngton, Claudia Ohana, Luciana Braga, Marcos Breda, Mario Borges e Sergio Marone - este último em um nível ligeiramente inferior ao dos demais - encarnam seus papéis com grande competência e retiram dos mesmos todo o potencial possível.
Ainda assim, torna-se impossível não conferir um destaque adicional a Marcos Breda e Mario Borges, ambos exibindo não apenas notáveis trabalhos vocais e corporais, mas também uma compreensão absoluta dos contextos em que atuam. Sem dúvida, duas performances marcantes, que certamente se inserem entre as melhores da temporada.
Com relação à equipe técnica, são de excelente nível as traduções de Nunes e Breda, a mesma excelência presente nos belíssimos figurinos criados por Coca Serpa. Paulo César Medeiros ilumina a cena com humor e sensibilidade, sendo inteiramente apropriadas as músicas de Alexandre Elias, as coreografias de Antonio Negreiros e o visagismo de Rose Verçosa. No tocante ao cenário, e excetuando-se o último, como já foi dito, o trabalho de Hélio Eichbauer é deslumbrante.

FARSA - Textos de Cervantes, Tchecov, Molière e Martins Pena.
Direção de Luiz Arthur Nunes.
Com Marcos Breda, Mario Borges e outros.
Teatro Sesc Ginástico. Qui. a dom., às 19h.